quinta-feira, 25 de março de 2010

Comer, rezar, amar

A busca por Deus é uma reversão da ordem mundial normal, mundana. Na busca por Deus, você se afasta do que atrai e nada em direção àquilo que é difícil. Abandona seus hábitos reconfortantes e conhecidos com a esperança (a mera esperança!) de que alguma coisa melhor lhe vai ser oferecida em troca daquilo de que você abriu mão. Toda religião do mundo opera sobre o mesmo conceito do que significa ser um bom discípulo – acordar cedo e rezar a Deus, aprimorar suas virtudes, ser um bom vizinho, respeitar a si mesmo e os outros, dominar seus anseios. Todos concordamos que seria mais fácil dormir até tarde, e muitos de nós fazem isso mas, durante milênios, houve outros que decidiram se levantar antes do sol, lavar o rosto e fazer suas orações. E, em seguida, tentar bravamente se manter fiel a suas convicções devocionais durante a loucura de mais um dia.
Os devotos deste mundo executam seus rituais sem garantia de que algo de bom virá deles. É claro que existem várias escrituras e vários sacerdotes que fazem várias promessas sobre o que suas boas obras irão produzir (ou ameaças em relação às punições que o aguardam, caso você caia em tentação), mas o simples ato de acreditar é um ato de acreditar é um ato de fé, porque nenhum de nós conhece o desfecho. Devoção é diligência sem segurança. A fé é uma forma de dizer: “Sim, aceito previamente a maneira como o universo funciona, e acredito previamente naquilo que hoje sou incapaz de entender.” Há um motivo pelo qual usamos a expressão “salto de fé” – porque a decisão de aceitar qualquer idéia de divindade é um salto tremendo do racional em direção ao desconhecido, e pouco me importa com quanto afinco os estudiosos de qualquer religião tentem fazer você se junto a suas pilhas de livros e lhe provar, pela escritura, que sua fé na verdade é racional; não é. Se a fé fosse racional, não seria – por definição – fé. A fé é a crença naquilo que não se pode ver, provar ou tocar. Fé é mergulhar de cabeça e em velocidade total rumo à escuridão. Se de fato conhecêssemos previamente as respostas sobre o sentido da vida, a natureza de Deus e o destino de nossas almas, nossa crença não seria um salto de fé e não seria um corajoso ato de humanidade; seria apenas... uma prudente apólice de seguros.
Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser cética, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Estou pouco me lixando para provas e demonstrações e seguranças. Tudo que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sanguínea da mesma forma que a luz se diverte sobre a água.
Extraido do livro: Comer, rezar, amar - Elizabeth Gilbert

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