segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A arte da felicidade

Margaret, uma jornalista de trinta e um anos, exemplifica a importância crítica de compreender e aceitar a mudança no contexto de um relacionamento pessoal. Ela me procurou queixando-se de uma leve ansiedade, que atribuía à dificuldade de se ajustar a um recente divórcio.
- Achei que poderia ser uma boa idéia fazer algumas sessões só para conversar com alguém, explicou -, para me ajudar a deixar o passado para trás e fazer a transição de volta à vida de solteiras. Para ser franca, isso me deixa um pouco nervosa...
Pedi-lhe que descrevesse as circunstâncias do divórcio. - Acho que teria de descrevê-lo como um divórcio amigável. Não houve grandes brigas, nem nada semelhante. Meu ex-marido e eu termos bons empregos de modo que não tivemos problemas com a questão financeira. Temos um filho, mas ele parece ter se ajustado bem ao divórcio; e meu ex-marido e eu firmamos um acordo paria custódia conjunta que está funcionando bem...
- O que eu queria era saber o que levou ao divórcio.
- Bem... acho que simplesmente perdemos a paixão suspirou ela. – Parecia que aos poucos o romantismo foi desaparecendo; simplesmente não tínhamos mais a mesma intimidade de quando nos casamos. Nós dois estávamos ocupados com nossos empregos e nosso filho, e só parecíamos estar nos afastando. Experimentamos algumas sessões de aconselhamento conjugal, mas elas de nada adiantaram. Ainda nos dávamos bem, mas era como se fôssemos irmãos. Não parecia amor; não parecia um casamento de verdade. De qualquer modo, chegamos à conclusão de que seria melhor partir para o divórcio.. Simplesmente estava faltando alguma coisa. Depois de passar duas sessões delineando o problema, decidimos por uma psicoterapia breve, voltada especificamente para ajudá-la a reduzir a ansiedade e a ajustar-se às recentes mudanças na sua vida. No todo, ela era uma pessoa inteligente e equilibrada em termos emocionais. Reagiu muito bem a uma terapia breve e fez uma transição tranqüila de volta à vida de solteira.
Apesar de um evidente carinho mútuo, estava claro que Margaret e o marido interpretaram a mudança no grau da paixão como um sinal de que o casamento deveria terminar. Infelizmente, é com extrema freqüência que entendemos uma diminuição da paixão como um sinal da existência de um problema fatal no relacionamento. E, na maior parte das vezes, o primeiro indício de mudança no nosso relacionamento pode gerar uma sensação de pânico, uma impressão de que algo deu terrivelmente errado. Talvez não tenhamos escolhido o parceiro certo, no final das contas. Nosso companheiro simplesmente não parece ser a pessoa pela qual nos apaixonamos. Surgem desavenças - podemos estar a fim de sexo, e nosso parceiro estar cansado; podemos querer ver um filme especial, mas ele não se interessa pelo filme ou está sempre ocupado. Por isso, concluímos que tudo está acabado.
Afinal, não há como ignorar o fato de estarmos nos afastando. As coisas simplesmente não são mais as mesmas. Talvez devêssemos nos divorciar. E o que fazemos então? Especialistas em relacionamentos produzem livros em massa, com receitas que nos dizem exatamente o que fazer quando a paixão e a chama do romantismo começam a fraquejar. Eles oferecem uma enorme variedade de sugestões destinadas a ajudar a reaquecer o romance - refaça sua programação de modo que dê prioridade ao tempo para atividades românticas, planeje escapadas de fim de semana ou jantares românticos, elogie seu parceiro, aprenda a ter uma conversa significativa. Às vezes, isso ajuda. Às vezes, não. No entanto, antes de declarar o relacionamento morto, uma das coisas mais benéficas que podemos fazer quando nos damos conta de uma mudança é simplesmente tirar uma distância, avaliar a situação e nos armar com o maior conhecimento possível sobre os padrões normais de mudança em relacionamentos.
Com o desenrolar da nossa vida, passamos da tenra infância para a infância, a maturidade e a velhice. Aceitamos essas mudanças no desenvolvimento individual como uma progressão natural. Um relacionamento, entretanto, é também um sistema vivo, composto de dois organismos que interagem num ambiente. E, na qualidade de sistema vivo, é igualmente natural e correto que o relacionamento passe por estágios. Em qualquer relacionamento há diferentes dimensões de intimidade física, emocional e intelectual. O contato corporal, o compartilhar de emoções, de pensamentos, e a troca de idéias são todas formas legítimas de ligação com aqueles que amamos. É normal que o equilíbrio tenha um movimento cíclico: às vezes a intimidade física diminui, mas a intimidade emocional pode aumentar; em outras ocasiões não temos vontade de trocar palavras mas só de receber um abraço. Se tivermos nossas antenas voltadas para essa questão, podemos nos alegrar com o desabrochar da paixão num relacionamento, mas, se ela arrefecer, em vez de sentir preocupação ou raiva, podemos nos abrir para novas formas de intimidade que podem ser igualmente satisfatórias – ou talvez mais. Podemos apreciar nosso cônjuge Como companheiro, ter um amor mais estável, um laço mais profundo.
Em seu livro, Intimate Behavior, Desmond Morris descreve as mudanças normais que ocorrem na necessidade de intimidade de um ser humano. Ele sugere que cada um de nós passa repetidamente por três estágios: do "me abrace", do "me solte' e do "me deixe em paz". o ciclo torna.se aparente pela primeira ver no início da vida, quando a criança passa da fase do "abraço", característica da tenra infância, para a fase da "independência", quando a criança começa a explorar o mundo, a engatinhar, caminhar e alcançar alguma independência e autonomia com relação à mãe. Isso faz parte do desenvolvimento e crescimento normal. Essas fases no entanto, não seguem sempre na mesma direção. Em várias etapas, a criança pode sentir alguma ansiedade quando o sentimento de separação se torna forte demais, e nesses casos ela volta para a mãe em busca de carinho e aconchego. Na adolescência, a "rejeição" passa a ser a fase predominante à medida que a criança luta para formar uma identidade individual.
Embora possa ser difícil ou doloroso para os pais, a maioria dos especialistas reconhece a fase como normal e necessária na transição da infância para a maturidade. Mesmo dentro dessa fase, ainda há uma mistura das outras. Enquanto em casa o adolescente está gritando "Me deixa em paz!" para os pais, suas necessidades do "abraço apertado" podem estar sendo satisfeitas por uma forte identificação com o grupo. Também nos relacionamentos de adultos, ocorre o mesmo fluxo. Os níveis de intimidade variam, com períodos de maior intimidade se alternando com períodos de maior afastamento. Isso também faz parte do ciclo normal de crescimento e desenvolvimento. Para atingir nosso pleno potencial como seres humanos, precisamos ser capazes de contrabalançar nossas necessidades de união e intimidade com períodos em que precisamos nos voltar para dentro, com uma enorme sensação de autonomia, para crescer e evoluir como indivíduos.
À medida que cheguemos a entender isso, não mais reagiremos com horror ou pânico quando nos dermos conta de que estamos "nos afastando" do nosso parceiro, da mesma forma que não entraríamos em pânico enquanto estivéssemos olhando a maré se afastar da costa. É claro que às vezes um distanciamento emocional crescente pode indicar sérios problemas num relacionamento (uma raiva reprimida em silêncio, por exemplo), e até podem ocorrer rompimentos. Nesses casos medidas tais como a terapia podem ser muito úteis. Porem o ponto principal a ter em mente é que um distanciamento crescente não significa automaticamente uma hecatombe. Ele também pode fazer parte de um ciclo que volta a redefinir o relacionamento de outra forma que pode resgatar ou até mesmo superar a intimidade que existia no passado.
Portanto o ato de aceitação, de reconhecimento de que a mudança é uma parte natural das nossas interações com os outros, pode desempenhar um papel importante nos nossos relacionamentos. Podemos descobrir naquele exato momento em que podemos estar nos sentindo mais decepcionados, como se algo tivesse excluído do relacionamento, que pode ocorrer uma profunda transformação. Esses períodos de transição podem ser pontos cruciais em que o verdadeiro amor começa a amadurecer e florir. Nosso relacionamento pode não ser mais baseado na paixão intensa, na visão do outro como a encarnação da perfeição, ou na sensação de que estamos em fusão com o outro. Em compensação porém agora, estamos numa posição em que podemos realmente começar a conhecer o outro - a ver o outro como ele é, um indivíduo isolado, com defeitos e fraquezas talvez, mas um ser humano como nós mesmos. É somente quando chegamos a esse ponto que podemos assumir um compromisso autêntico, um compromisso com o crescimento de outro ser humano - um ato de verdadeiro amor.
Talvez o casamento de Margaret pudesse ter sido salvo pela aceitação da mudança natural no relacionamento e pela criação de um novo relacionamento com base em fatores que não fossem a paixão e o romance.
Felizmente porém, a história não termina aqui. Dois anos depois da minha última sessão com Margaret, deparei com ela por acaso num shopping ( a situação de deparar com um ex paciente num contexto social invariavelmente faz com que eu, como a maioria dos terapeutas, me sinta um pouco constrangido).
- Como tem passado? – perguntei
- Não poderia estar melhor! – exclamou ela – No mês passado, meu ex marido e eu voltamos a nos casar.
- Verdade?
- Verdade, e está indo às mil maravilhas. É claro que nós continuamos a nos ver por causa da custódia conjunta. Seja como for, no início foi difícil... mas depois do divórcio, de algum modo a pressão sumiu. Nós não tínhamos mais expectativas. E descobrimos que no fundo gostamos um do outro e nos amamos. As coisas ainda não são iguais ao que eram quando nos casamos pela primeira vez, mas isso parece não ter importância. Estamos realmente felizes juntos. A impressão é que tudo está certo.

Extraido do livro: A arte da felicidade - Dalai Lama

Sempre é tempo para recomeçar


Começo desta forma: A cada novo dia é tempo!Tempo de amarTempo de acreditarTempo de lutarTempo de ser melhorTempo de buscar em DeusTempo de se descobrirTempo de recomeçar.A cada recomeçar descubro o novo de Deus, a novidade de Deus, o melhor de Deus, o querer de Deus para mim. Recomeçar é viver um novo tempo, é ser melhor, é ir além.O recomeçar nos leva a abraçar novas oportunidades que a vida oferece, nos leva a crescer, nos leva a ser melhores, a acreditar novamente e ver tudo de forma diferente. Quem recomeça se dá uma nova chance.Quem recomeça se descobre. Descobre suas capacidades, seus talentos, seus valores...Aprende também a se conhecer, e a conhecer o outro.Quem recomeça acredita no novo, luta pelo novo, vive o novo.Saiba que a cada novo dia, você tem uma nova oportunidade para você recomeçar novamente, e o melhor é que Jesus recomeça com você.Saiba que "o recomeçar acontece quando eu me decido a recomeçar". E sempre é tempo de recomeçar!