domingo, 3 de maio de 2009

Amigos


Eu queria ser poeta
Conhecer o ofício de recolher palavras
Realizar a proeza de desvendar os silêncios
E descobrir o que o outro não fala, mesmo quando ele não diz
Eu queria ser amigo dos versos
Possuir as asas que à inspiração pertencem
E alcançar a palavras que possa ser a tradução do amor que sinto por você
Mas do poeta eu só possuo os óculos
Óculos são instrumentos que ampliam a visão
O amor também
E já que não sou poeta o amor é o que me resta
Desde quando a vida me permitiu conhecer você
Tenho experimentado a beleza do significado da amizade
Quando nossos caminhos se encontraram foi amizade a primeira vista
Depois daquele encontro meu mundo ficou mais bonito
Sua presença quando os dias eram difíceis
Quando pensei que a felicidade era coisa de outro mundo
Sua palavra me convenceu de que eu deveria continuar
Suas alegrias despertando minhas alegrias
Suas risadas me fazendo rir também
Nossas madrugadas de conversas
Vida dividida nas pequenas coisas
Costura do tempo nos aproximando sempre mais
Mas quando surgiram nossas diferenças
Quando descobrimos nossos maiores defeitos
Manifestações de protestos
Crises nervosas
Discursos desaforados
A promessa de que eu iria embora definitivamente de sua vida
E de que nunca mais voltaria a pronunciar seu nome
Mas depois a saudade
A ausência mensurada
O arrependimento
O pedido de perdão
E o aprendizado de que quanto mais a gente ama
Muito mais a gente precisa perdoar
O amor é o motivo do perdão
E o perdão é a continuidade do amor
Obrigada por ter me ajudado a entender isso
Estar ao seu lado é sempre motivo de festa
Quando estamos juntos, a vida ganha um significado diferente
Retiramos o dia comum do calendário e o transformamos em feriado
Extraímos felicidade das coisas mais simples
E multiplicamos a graça de cada instante
Eu não sei dizer quem eu sou sem que me recorde de você
Se da minha vida eu sou o sujeito, você é um adjetivo
Você me empresta qualidade
Você me devolve quando sou roubado
Você me encontra quando estou perdido
Pode ser que um dia a gente venha a se perder nas distâncias deste mundo
Pode ser que um dia a gente se separe
Nem sempre a vida respeita o que a gente quer
Mas uma coisa é certa
Se pela força da distância você se ausentar, pelo poder que há na saudade você há de voltar
Mesmo que o tempo passe...
Você fique velhinho..
E viva aquela fase: põe meu amigo no sol, tira meu amigo do sol
Mesmo que você perca toda a sua utilidade
Dentro de mim você continuará tendo significado
E haverá sempre um lugar reservado em minha casa para você chegar, quando quiser
Eu não gostaria que a morte nos alcançasse sem antes poder lhe dizer
Que nas miudezas dos meus dias que passam você é um grande acontecimento que permanece
Amar é um recurso humano que nos faz eternos..
Recolhe e resguarda e não deixa morrer
Retira da mira do tempo
E aconchega a pessoa amada na certeza: Você não vai passar
Hoje, neste dia em que a vida nos permitiu um encontro nestas páginas
Neste instante em que seus olhos se ocupam das palavras que meu coração resolveu impressionar
Eu gostaria de lhe agradecer pelas inúmeras vezes que você me enxergou melhor do que eu sou
Pela sua capacidade de me olhar devagar
Já que nesta vida muita gente já me olhou depressa demais
Eu que nem sempre soube acertar
Aprendi com você que arrependimento é bem melhor do que culpa
Obrigado por você não ter desistido de mim
Obrigado pelo seu dom de multiplicar o que sou e o que posso
Eu, que na solidão dos meus dias sou tentado a pensar pequeno
Quando o encontro, sou sempre surpreendido com seu poder de me fazer ver o mundo com as mesmas lentes dos poetas
Obrigado, hoje e sempre
O que nos torna amigos é a capacidade de sermos muitos, mesmo quando somos dois.

Extraido do livro: Amigo somos muitos, mesmo sendo dois (Fábio de Melo)

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